MORREU O MENTOR DO PLANO CRUZADO?

            John Kenneth Galbraith (15/10/1908, Iona Station, Canadá – 29/04/2006, Cambridge, Massachusetts, EUA) economista nascido no Canadá, que se tornou notável nos Estados Unidos, onde se naturalizou. 
         Formou, em 1934, como PhD pela Universidade da Califórnia, em Berkeley,  com destaque que lhe conferiu a indicação para ser professor nesta Universidade. Posteriormente foi professor na Universidade de Princeton e na de Harvard (nesta partir de 1948).
         Foi presidente da Associação Americana dos Economistas e editor da revista Fortune.  Tendo ocupado diversos cargos no Governo Norte-Americano, inclusive de Embaixado na Índia.
         Denominado como economista institucionalista, com forte influência do pensamento keneysiano. Considerava que a tecnoburocracia dominava as cenas econômicas, sociais e política, JKG não aborda, como Marx,  o papel e o poder dos titulares dos meios de produção. E, considerava que os sindicatos, organizações de consumidores e organismos estatais poderiam conter a voracidade dos poderes dos oligopólios, via tecnoburocracia, perante uma realidade onde não mais predominava a livre concorrência contida nos manuais de economia.
         Assessorou vários presidentes, entre eles pode-se citar Kennedy, de quem foi inclusive embaixador na India, e,  até de Sarney, tendo “visitado” o Brasil logo após a imposição do Plano Cruzado e foi recebido em audiência especial no Palácio do Planalto.
         Em seu artigo INFLAÇÃO, RECESSÃO E CONTROLE DE PREÇOS, publicado no New York Times Magazine, em 07 de junho de 1970 (que, no Brasil, pode ser encontrado  no livro de  JKG,  Economia, Paz & Humor.  São Paulo, Circulo do Livro, c1972. Publicado no Brasil no início da década de 80. Páginas 86 a 95), após abordar a necessidade de controle inflacionário, defendia um plano de controle inflacionário, baseado no esquema proposto por um banqueiro de Wall Street, Roberto Roosa (ex-Secretário do Tesouro Americano).
            Em linhas gerais este plano sugerido em 1970 por Galbraith/Roosa tem muita similaridade com o Plano Cruzado,  de 1986:
            “Ele começaria congelando todos os preços e salários por seis meses. Isso quebraria a estrutura das expectativas inflacionárias e asseguraria aos sindicatos que eles poderiam estabelecer negociações  na pressuposição de custos de vida estáveis. Durante este período de seis meses, haveria consulta ativa às empresas e sindicatos para a elaboração de um sistema de contenção mais durável. Seria necessário também tomar-se medidas para aplainar as desigualdades – como por exemplo, entre os sindicatos que acabaram de conseguir um novo contrato e os que estavam no fim de um velho. Durante o tempo do congelamento, todas as empresas pequenas – aquelas que empregam, digamos menos de cem pessoas, ou mesmo mil pessoas – deveriam ficar isentas. Assim também os salários de todos os trabalhadores não abrangidos por contratos coletivos. Eu também isentaria as firmas varejistas, fosse qual fosse o seu tamanho, pois elas teriam pequeno poder independente no mercado. O objetivo não é preços nivelados perfeitamente, mas a eliminação do impulso tremendamente inflacionário da atual espiral salários-preços.” (pg 94/95).
            O Plano Cruzado sem dúvida teve semelhanças marcantes com a sugestão de JKG/Roosa, inclusive utilizando um princípio aludido por Galbraith de que:
“Todo controle de preços e salários envolve o exercício arbitrário do poder público. Mas isso não é uma objeção, pois substitui o exercício arbitrário do poder privado, que tem seus efeitos posteriores extremamente arbitrários para aqueles que sofrem a inflação resultante.” (op cit. Pág. 94).
            Embora não usando os termos exatos adotados por Galbraith, os aparentes gênios da economia da brasileira, renomearam conceitos, adotando alguns aparentemente bem novos tais como inflação inercial, congelamento, tablita, acordo de cavalheiros, etc.
            No entanto, nenhum dos economistas destacados quando da imposição do Plano Cruzado já admitiu a determinante influência de JKG, talvez com temor de ser caracterizado como capacho do imperialismo. Mas, há indícios seguros de que este economista canadense-estadunidense teve grande influência na definição do Plano Cruzado.
            Será  que o Plano Cruzado foi definido por JKG, a partir de diretrizes da Wall Street?
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Hudson Cunha era assessor técnico da bancada do PT na Câmara dos Deputados,  durante a segunda metade da década de 80. Foi também diretor do Sindicato dos Economistas do Distrito Federal e consultor do INESC.  Hoje, atua centralmente como advogado de entidades sindicais e populares no Distrito Federal e Entorno.